Por Marcela Fernandes
“Talvez o que fazemos com tantos pretextos cristãos na verdade não gera nada pois fazemos sozinhos e para nós mesmos.”
De repente após o último acorde e um segundo de suspense e silêncio, toda a platéia se levanta e numa explosão de palmas deixa claro que aquela apresentação da Orquestra Sinfônica foi única. Única mesmo em suas imperfeições e limitações. Única pela dedicação  dos jovens músicos que precisam se desdobrar durante dias a fio para fazer soar um bom som. Única pelo árduo trabalho em equipe que está por trás desse momento singular onde dezenas parecem um só. Um som, uma pulsação, uma melodia.
Há alguns anos participo de grupos de música, orquestra de câmara e nos últimos meses da Orquestra Sinfônica de Bauru, experiência impar e que sempre me leva à reflexão. Na música, nenhum som está sozinho. Para ser uma melodia, um ritmo, uma sinfonia, ópera e até mesmo para dar sentido ao silêncio, as notas precisam estar acompanhadas. Nos nossos ensaios, grande parte deles é dedicado ao outro. Não podemos tocar apenas o que está na nossa partitura como se só existíssemos nós, os primeiros violinos. Precisamos esperar o solo do trompete e entrar no seu contratempo, ou a introdução da percussão, ou mesmo uma frase dos segundos violinos, seguindo a base do cello e contrabaixo. Os detalhes da flauta nos fazem prosseguir na melodia e assim cada um tem um lugar, cada um tem seu momento e além de tudo isso, precisamos estar sempre atentos aos movimentos hora leves, hora abruptos do maestro, que nos ajuda a pulsar como um só coração. O trabalho de bastidores de uma Orquestra é fascinante, inspirador. São erros e acertos, frases sendo repetidas vez após vez, contagem na mente, dores musculares por repetição incessante de uma parte mais complicada. São detalhes que quando as pessoas estão assistindo e sendo elevadas a outra dimensão quando escutam aquela harmonia de sons, não percebem. Mas seus aplausos no fim de um concerto, sua satisfação, faz com que todo o trabalho, todo o stress, horas sozinhos tentando melhorar o som, faça todo o sentido.
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Talvez o que fazemos com tantos pretextos cristãos na verdade não gera nada pois fazemos sozinhos e para nós mesmos, para a satisfação do nosso ego, o conforto de fazer algo para Deus, limpando nossa barra. Se estamos independentes, se não conseguimos harmonizar nossa vida, talvez o que pensamos ser música não passe de muito barulho. Não podemos permitir que nosso coração fique ancorado no individualismo, apenas observando os outros como se estivéssemos em melhor situação. No fim, será o tipo de vida que não ecoará nem por segundos na eternidade. Amar, doar-se, dedicar-se ao outro, isso sim é uma grande sinfonia! Tentar novamente quando todos falharam nos bastidores, insistir em “tocar juntos”, permanecer lutando por aquela pequena mudança que fará todo o sentido, isso sim nos fará uma grande Orquestra do Reino de Deus cuja música marcará centenas de milhares de vida, inclusive a sua. Sermos “um” dá trabalho. Leva tempo, leva esforço e dias de tentativas que algumas vezes parecerão inúteis. Mas naquele grande dia, quando todas as coisas farão sentido Nele, o verdadeiro amor que vai além das falhas de cada um, soará em uma linda melodia, com sons, tons e ritmos. E olhando para Aquele que consumou toda essa unidade com sua própria vida, tornando-as possíveis e acessíveis, só poderemos nos levantar com lágrimas nos olhos, emoção e com apenas uma palavra a ser dita: Bravo!
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