Por Aline Medeiros

Essa frase, do famoso físico Isaac Newton nos revela ainda hoje, o que poderíamos chamar de legado. 

Diante de uma geração de narrativas relativas, onde a história do outro importa menos, ou dói pequenas gotas de lágrimas sem o sacrifício da escuta e do aprendizado, podemos pensar que o senso de comunidade se perdeu. E o que isso tem a ver com legado? 

Legado, partindo do pressuposto de Newton, parece nos revelar a estrutura da coletividade. 

Estrutura que só faz sentido no hoje para mim, pelos que vieram antes. Ou seja, a coletividade depende da atuação de indivíduos, uns caminhando nos passos de outros.

Os passos de quem foi à frente da gente, abrindo muitas vezes, “trilhas”. 

Os caminhos abertos podem ser o presente que chamamos de legado. 

Lembro-me da velha receita das minhas tias, do bolo de tapioca, que alguém lá atrás teve que descobrir que colocar polvilho azedo não trará o “puxa-puxa” que o polvilho doce traz. Alguém “estragou” a receita primeiro. Das minhas tias vieram o toque do açafrão para deixar amarelinho. Nesse símbolo singelo, o bolo chega a mim como um legado. Alguém fez o que eu não faria, e provavelmente alguém copiará a “minha receita” e trará novo toque. E talvez “ estrague” a receita, até que eu esteja perto para ensinar. 

Essa é a alegria de construir com o outro.

Do papel de quem está à frente e fez coisas que nunca faremos, ou faremos ainda mais, como Jesus disse aos seus discípulos. Jesus não se deteve em espaços egoístas. 

Para construção de um legado, o que semeio não será necessariamente visto ou percebido hoje; será para o outro que que vem atrás, colher e frutificar. Moisés deixou legado para Josué sem ao menos sentir o cheiro da terra que sonhou por anos. Moisés morreu sorrindo, acredito eu em meus devaneios. Morreu com a certeza de que alguém pisou onde sonhou, isso lhe foi suficiente. 

Na nossa caminhada de fé os legados mais preciosos são as histórias partilhadas. 

Quando olho para essa exata imagem, que me fez brotar estas palavras, vejo narrativas que envolvem mulheres que em diferentes épocas as esculpiram ( e ainda o fazem) tornando a jornada muito mais emocionante e viva.  

Du, Carlinha, Maely e Ba ( direita para esquerda) revelam as narrativas contadas pelo viver que é coletivo, e sob o tom terroso dos arredores de um rio tupi chamado Batalha, no qual esta belíssima imagem foi tirada; a luta alcança descanso de quem se pôs num lugar à frente. Facilitando a caminhada. Afinal, legado se fará ao subir nos ombros do que está à frente e dispor os nossos próprios para quem vem atrás.