Quais as origens da estrutura da igreja e da estrutura das missões atuais? (modalidade e sodalidade) Será que existe um padrão rígido estabelecido no Novo Testamento que deve ser seguido à risca para as igrejas e missões? Segundo o texto abaixo, vemos que Deus foi estratégico ao permitir que os cristãos “copiassem” os pagãos e judeus em suas formas e estruturas ao invés de estes terem que criar “do nada”.

O texto abaixo é o primeiro de uma série sobre as duas estruturas, igreja e missão, suas funções e sua importância na história. Estes textos foram escritos por Ralph D. Winters falecido professor de Missões do Fuller Theological Seminary, no estudo chamado “Two Structures of God’s Redemptive Mission”.

O texto irá servir para definir, ilustrar e comparar sua natureza e importância. O autor também tentará explicar porque ele acredita que nossos esforços atuais em qualquer parte do mundo serão eficazes somente se estas duas estruturas estiverem completamente envolvidas e apoiando uma a outra.

Estruturas Redentoras na época do Novo Testamento.

Primeiramente, reconheçamos a estrutura conhecida geralmente como a “Igreja do Novo Testamento” como basicamente uma sinagoga cristã.

O trabalho missionário de Paulo consistia primariamente em  ir às sinagogas espalhadas pelo Império Romano, começando na Ásia Menor, e tornando claro aos judeus e gentios nestas sinagogas que o Messias havia vindo, que este é Jesus Cristo, o Filho de Deus, que em Cristo uma autoridade suprema, ainda maior do que a de Moisés existia; e isso tornava mais compreensível que nunca a abertura aos gentios sem forçar sobre eles nenhuma adaptação cultural aos rituais da Lei Mosaica. Um resultado indireto do trabalho de Paulo foi o desenvolvimento eventual de sinagogas completamente novas que eram não somente cristãs, mas também gregas. Muito poucos cristãos, casualmente lendo o Novo Testamento (e com apenas o Novo Testamento disponível a eles), poderiam perceber o impacto que houve através de evangelistas judeus que foram antes de Paulo por todo o Império Romano (tirei o “d” a mais aqui) – um movimento que teve início 100 anos antes de Cristo. Alguns destes foram as pessoas de que Jesus em pessoa descreveu como aqueles que “atravessaram terra e mar para fazeram um único prosélito”. Saulo seguiu o caminho deles. Paulo se apoiou no esforço deles e foi além deles com o novo evangelho que ele pregava, que permitia aos gregos que permanecessem gregos e que não fossem circumcidados e assimilados culturalmente aos costumes judaicos. Paulo tinha um grande fundamento sobre o qual construir: Pedro declarou “Moisés é pregado em toda cidade (do Império Romano)”. (Atos 15:21)

E Paulo não apenas foi ao que aparenta toda sinagoga existente na Asia, pois ele mesmo disse “toda a Ásia ouviu o Evangelho”, mas quando houve uma demanda, ele estabeleceu novas comunidades típicas de uma sinagoga com crentes sendo a unidade básica desta atividade missionária. A primeira estrutura do Novo Testamento é o que é frequentemente chamado a “Igreja do Novo Testamento. Ela foi essencialmente construída entre as linhas das sinagogas judaicas, abraçando a comunidade dos fiéis em qualquer lugar. A característica definitiva desta estrutura é que ela incluia jovens e velhos, homens e mulheres. Note também que Paulo queria construir estas comunidades à partir de antigos judeus bem como gregos não-judeus.

Há, também, uma segunda estrutura um tanto quanto diferente no contexto do Novo Testamento e, apesar de sabermos muito pouco sobra a estrutura das campanhas evangelísticas que houve antes de Paulo, através dos judeus discipuladores, sabemos que elas alcançaram todo o Império Romano e seria uma surpresa se Paulo não seguisse os mesmos procedimentos. E nós sabemos muito sobre a forma como Paulo operava. Ele foi, verdadeiramente, enviado pela igreja de Antioquia. Mas, uma vez fora de Antioquia, ele parecia estar por si só. A pequena equipe que ele formou era economicamente auto-suficiente quando as circunstâncias demandavam, mas revela-se dependente quando as circunstâncias demandavam isso, tanto da igreja de Antioquia quanto de outras igrejas que surgiram como um resultado de trabalhos evangelísticos.

Ao mesmo tempo em que a estrutura da equipe de Paulo não nos é clara no Novo Testamento, também não há uma descrição clara de uma congregação. Em ambos os casos, a falta de qualquer definição do narrador implica a pré-existência de um padrão de relacionamento comumente compreendido e isso se aplica ao caso da estrutura congregacional e à estrutura da equipe missionária que Paulo empregou antes como Saulo, o Fariseu, e depois no tempo da congregação de Antioquia em Atos 12:2, que liberou Paulo e Barnabé para o trabalho missionário. Portanto, de um lado, a estrutura que chamamos de Igreja do Novo Testamento é um protótipo de todas as comunidades cristãs em que jovens e velhos, homens e mulheres são reunidos como famílias normais agregadas e, por outro lado, a equipe missionária de Paulo pode ser considerada um protótipo de todas as empreitadas missionárias organizadas à partir de obreiros comprometidos e experientes que se afiliaram como uma decisão de segundo nível, além da membresia na primeira estrutura.

Note bem o compromisso adicional. Note também que a estrutura que resultou foi algo definitivamente mais do que uma campanha da igreja de Antioquia. Não importa o que pensamos que a estrutura era, nós sabemos que não era simplesmente a igreja de Antioquia operando à distância de sua base. Era algo mais, algo diferente. Nós consideraremos a equipe missionária como essa segunda estrutura redentora dos tempos do Novo Testamento.

Concluindo, é muito importante notar que nenhuma destas duas estruturas “caíram do céu”, mas já existiam. Isso pode ser um tanto chocante a princípio, já que implica em pensar que Deus usou tanto os padrões de uma sinagoga judaica ou de um padrão judaico de evangelismo, mas isto não deve ser mais surpreendente do que o fato de que Deus empregou o uso do idioma Grego pagão, com o Espírito Santo guiando os escritores bíblicos a utilizarem termos como, por exemplo, kurios (que era um termo originalmente pagão) e colocá-los de forma a carregar a revelação cristã.

O Novo Testamento se refere a uma sinagoga dedicada a Satanás, mas isso não significa que os cristãos deveriam evitar este padrão e não poderiam ter comunhão dentro do padrão de sinagoga. Estas considerações nos preparam para o que vem em seguida na história da expansão do evangelho, porque vemos outros padrões escolhidos pelos cristãos de outros tempos em que estes são evidentemente “padrões emprestados”, assim como aqueles dos tempos do Novo Testamento.

Na verdade, a implicação missiológica profunda de tudo isto é que o Novo Testamento está tentando nos mostrar como emprestar padrões eficazes; ele está tentando liberar todos os missionários do futuro da necessidade de seguir os formatos precisos da sinagoga Judaica e da equipe missionária judaica e, ainda assim, permitir que eles escolham estruturas nativas comparáveis nas inúmeras diferentes situações através da história e pelo mundo – estruturas que irão corresponder fielmente à função de padrões que Paulo empregou e até sua forma! Não é de se admirar que um número grande de literatura da área de missiologia atualmente destacam o fato de que a Cristandade global empregou de forma geral os diversos idiomas e culturas da comunidade humana global  e,  ao fazerem isto, lançou por terra todos os esforços de se canonizar qualquer tipo de extensão mecânica e formal da igreja do Novo Testamento – que é o “povo de Deus”, não importando a forma como estes indivíduos são organizados. Como Kraft diz, nós buscamos equivalência dinâmica e não replicação formal.

(a ser continuado)

Na próxima parte do estudo, o autor fala sobre o desenvolvimento das estruturas cristãs juntamente com a cultura Romana. Acompanhe na próxima semana.

– Tradução: Renato Wong // Revisão: Carlinha de Paulo