Texto por Marco Faria:
Quando falamos sobre intercessão um dos aspectos bastante ensinado é a necessidade de orarmos sobre aquilo que está no coração de Deus. E isto é, de fato,  muito importante. Acreditamos que podemos e devemos nos colocar em oração e súplica a Deus sobre as situações que estão ocorrendo no mundo ao nosso redor; Buscamos conhecer aquilo que é a prioridade pela qual devemos orar, aquilo que está no coração de Deus e que ele deseja compartilhar ao nosso coração para que, juntamente com ele, possamos participar do seu reinado sobre o mundo.
Acho fantástico a compreensão acerca de participarmos do governo de Deus sobre as realidades do mundo, em Cristo. Mas gostaria de tentar compreender alguns aspectos mais imediatos da intercessão que acredito ser necessário experimentarmos em nossas vidas.
Interceder, segundo o dicionário, é intervir por alguém, pedir em seu lugar, intermediar; No latim, inter- entre e cedere- ir, sair, proceder. Eu gostaria muito de considerar sobre o sentido da palavra interceder como o movimento (a ação) de ir, ou sair de si, em direção ao outro e colocar-se entre ele e Deus, ou entre ele e a sua necessidade, sua causa e etc.
Bem, o colocar-se entre o outro e Deus, ou seja, entre a pessoa e Deus, é exatamente aquilo que o Novo Testamento nos ensina sobre a obra realizada por Jesus para com o ser humano. O Deus Filho intercede por nós ao encanar-se e viver nossa vida, morrer nossa morte e ressuscitando, subindo aos céus, tornando-nos aceitáveis e dando-nos acesso, pelo Espírito Santo, diante de Deus Pai.
Sendo assim, cabe a nós o interceder no sentido de intervir diante das dificuldades e necessidades do outro, intermediar em favor das causas do outro. E aqui chegamos num ponto importante da nossa reflexão: Interceder é um convite a olharmos para além das nossas necessidades, para sairmos de nós mesmos para fora da nossa realidade restrita e voltarmo-nos para as realidades diversas que nos cercam; confiantes de que o Deus ao qual buscamos e servimos pode fazer vir sobre nós o seu reino e a sua vontade, transformando o mundo ao nosso redor pelo simples fato de que ele tem nos transformado e nós temos experimentado isso.
Talvez precisamos compreender intercessão como esse agir sobre as realidades indo de encontro às demandas do outro. Talvez interceder seja o suportar uns aos outros que muitas das vezes não conseguimos compreender seu verdadeiro sentido. E aqui podemos perceber que a intercessão, sendo ela parte da vida cristã, é um voltar-se para o outro para conhecer as suas dificuldades e necessidades, afim de buscar as soluções e respostas em Deus, de modo possamos nos tornar respostas para o outro.
Então, temos que intercessão é viver comunhão, é suportar uns aos outros, é compartilhar dos momentos da vida de uns dos outros, é viver junto dos que creem e ter tudo em comum, é repartir segundo as necessidades de cada um, como nos é apresentando sobre os primórdios dos cristãos em Atos dos Apóstolos. É interessante notar que, temos em Atos as narrativas de momentos impares de intercessão.
Eu acredito que ouvir o coração de Deus se relaciona diretamente com ouvir o clamor do próximo. Assim como Deus, diversas vezes, compartilha ao nosso coração sobre as nações e situações em lugares distantes e através da oração podemos por fé ver o reino de Deus se manifestando no mundo, também Deus tem compartilhado pela sua palavra a necessidade de que nos voltemos para o próximo servindo-o, amando-o e expressando e permitindo que seu reino venha e que sua vontade seja feita através de nós.
Intercessão começa nas nossas relações cotidianas, na comunhão da comunidade cristã e em nossas relações com o mundo, passa pela nossa devoção na oração a sós, na oração de uns pelos outros apresentando diante de Deus as necessidades, e culmina em prontidão para responder a Deus, ao próximo e ao mundo. E então, embora ver o que há entre nós?