A quem conheço no jardim?
É ele lugar de encontro?
Há quanto tempo já não é assim
Tudo agora parece confronto
Fruta para comer tirava-se do pé
Comunhão para viver era lei
Também lei era seja quem você é
O medo onde estava não sei
Era tudo tranquilo e seguro
Até o encontro não mais existir
Ser trocado pelo incerto futuro
O eterno presente pelo porvir
Isso rouba, quando nos invade,
O que nos foi posto no coração
A mais singela eternidade
Que nos faz ser multiplicação
Sendo desencontros
Não queremos o jardim
Queremos nosso canto e pronto
Vaidosos, consumidos enfim
O jardineiro, de onde estiver,
Nos mira e chama pelo nome
Fala de encontro, nossa vida requer
Ele nos liberta, não nos consome.
Em contra mão do curso perverso
Que traça nosso corpo pó
Encontramos o rei do Universo.
Cresce um jardim em nós
Esse jardim é para se encontrar
Ver quem morre e germina
Morre o humano sem par
Nasce quem à partilha se atina
Por fim, no jardim te conheço, igual
Tão próximo e perecível quanto eu
Você me conhece tal qual
Vivemos como o jardineiro viveu
Assim fazemos da comunhão primeira
Um novo encontro sem fim
Uma partilha verdadeira
Num redimido jardim