Você se lembra de se pegar pensando, enquanto criança ou adolescente, em ser adulto? Muitos tiveram, pelo menos uma vez, aquela vontade: “não vejo a hora de me tornar adulto, independente, de ter minhas coisas e fazer o que quero”. Isso é o que geralmente se passa na cabeça quando estamos passando pela transição que exigem de nós mais responsabilidade, compromisso, altruísmo e desempenho. O que chamamos de crescer.

Um dia, meditando na carta de João, capítulo 4, percebi um longo discurso de Jesus sobre ser filho e sobre seu Pai. Cristo exalta o seu relacionamento íntimo com Deus Pai e exorta a todos que devemos tê-lo. Por isso, creio que todas as ações de Cristo na terra foram trinitárias (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo). É uma família, uma comunidade de amor que sempre existiu, sempre foi relacional e toda a realidade foi tecida sobre essa verdade. O amor é a base relacional de tudo.
Então, em meio a essa reflexão, meu filho se aproxima repentinamente e me aborda com uma pergunta que inicia nosso diálogo:

– Pai?
– Oi, filho.
– Você sabia que aranha tem boca? E que ela é forte, mas que eu sou mais forte? (Ele tinha visto uma pequena aranha do lado da geladeira).
– Uau filho, que legal você reparar isso.
– É sim pai, e o que ela come?
– Filho, essas aranhas pequenas costumam comer mosquitos, moscas, baratas que sua mãe não gosta, insetos ruins para nós.
– Então ela ajuda a gente, né?
– Sim.

E continuamos nossa conversa que adentrou no seu sonho que também tinha uma aranha – esta era rosa e gigante -, mas no final Jesus dava um escudo para ele, que com o superpoder matava a aranha má.

Enquanto conversava com meu filho, algo sobre Deus encheu minha mente e coração.
É de costume, especialmente depois que me tornei pai, associar minhas experiências com a realidade divina. Como uma transposição de realidade. Sei que é muito aquém do que acontece no céu, não me iludo quanto a isso, mas de certo modo me dá um pouco mais de compreensão sobre o caráter paterno de Deus. Deus é Pai, e Jesus, em todo seu ministério na terra, exaltou essa característica. De repente, e para o meu espanto, a conversa com meu filho de 4 anos se tornou muito interessante. Desejei com alegria ter mais conversas assim com ele e fiquei imaginando, com certo anseio, construírmos juntos conversas longas e profundas para cada fase da vida.

Foi então que me perguntei: seria assim também com Deus? Será que Deus deseja que nos tornemos mais maduros para ter conversar mais longas e profundos com Ele? Enquanto pensava na resposta me lembrei da passagem de Efésios 4:12-14, quando o Apóstolo Paulo fala que devemos ser como filhos maduros (Huios). Esse texto sempre me trazia um tom de cobrança, exigência, uma responsabilidade pesada, sem graça. Era uma visão que não tinha espaço para o prazer de estar junto, de curtir a presença do Pai, quase que uma visão jurídica de relacionamento com Deus. Um Deus distante, sentado no seu trono pronto a julgar e me cobrar, daí vinha a seguinte crença: “Deus quer que eu me torne filho maduro para cobrar mais coisas para mim, me dar mais responsabilidades”. Eu nunca estive tão enganado a respeito disso!

Hoje creio que Deus quer que sejamos filhos maduros para sentarmos com Ele e termos boas conversas.. Descobrindo e desfrutando das riquezas da sua glória graciosa infinita. Isso, claro, para administrar melhor os dons e talentos dados por Ele, mas, muito mais que isso, para que essas conversas se convertam em amá-lo mais, ser mais íntimo, mais amigo, para olhar menos para o EU e ser mais justos e compassivo. Jesus está muito interessado em intimidade relacional, em quem estamos nos tornando (como Ele), é o prazer de sentar com seus filhos para estar juntos, mesmo que só para ficar quietinho.

Deus sempre teve um relacionamento com Jesus e o Espírito Santo, Eles são um, e nós, como humanidade, fomos criados a partir dessa realidade de amor voluntário. Por isso Ele nos convidou e nos adotou, por meio de Cristo, para desenvolvermos um relacionamento com Ele. Desenvolvermos esse relacionamento de amor que não exige performance, apenas uma resposta. Agora temos acesso ao Pai, por meio de Cristo com o Espírito Santo.

Ele nos ama e, por isso, se recusa a nos deixar na superficialidade da vida, no vazio da vaidade e no infrutífero terreno da arrogância. Existem muitos tesouros ocultos na graça de Jesus esperando para serem descobertos por seus filhos. Ele nos dá a fé para caminharmos no caminho aberto por seu filho!

Deus deseja que sentemos com Ele para termos longas e profundas conversas e ouvi-Lo de forma próxima. Como aqui no Brasil gostamos de um “cafézinho”, imagino que Jesus queira sempre nos convidar para tomarmos aquele “cafezinho” com Ele, todos os dias. Cada dia uma novidade. Para sempre!

 

Por Victor Sardenberg