Por Raíssa de Oliveira Procópio Faria, líder da Jocum Casa, São Paulo

Resumo e considerações finais do artigo de Raíssa de Oliveira Procópio Faria, mestre em Linguística Aplicada à Tradução da Bíblia pela Universidade das Nações (2019) e graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário Secal (2012). Atualmente cursa o mestrado em Teologia pela Faculdade Batista do Paraná. Possui, pós-graduação em Neuropsicopedagogia pela Faculdade Dom Bosco. (Email:raisspf@hotmail.com)

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A FÉ INSTAGRAMÁVEL NA ERA HIPERMODERNA

No mundo hipermoderno onde as pessoas fazem o constante uso da imagem nas redes sociais como forma de monetização, é imprescindível perceber como a fé cristã vem sendo associada esses modelos de comunicação. É necessário perceber as diferentes tendências e as agendas por trás dessas plataformas de comunicação e redes sociais, para compreendermos como um seguidor de Cristo deve agir diante de dado contexto e como podermos comunicar a mensagem do Evangelho nessas plataformas que tem valores antagônicos aos valores do Reino de Deus.

O termo seguidor é frequentemente usado para identificar os usuários do Instagram. Sendo assim, as pessoas que possuem mais relevância nessa rede social, são as pessoas que possuem mais seguidores. Porém, o termo seguidor não é um termo novo, advento da cultura das redes sociais. Os primeiros cristãos, alcançados pela mensagem do evangelho pregada pelos apóstolos eram conhecidos como
seguidores de Cristo. Em Atos dos apóstolos a palavra cristão Χριστιανούς (seguidor de Cristo) é mencionada, pela primeira vez em Atos 11.25-26 “[…] os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos”. Neste momento, os seguidores de Jesus estavam se configurando como Igreja, pois os apóstolos estavam compartilhando a mensagem de Cristo, obedecendo Sua missão. Esses seguidores, estavam seguindo um exemplo supracultural, e mesmo em meio a perseguição, eles estavam engajados com a mensagem do Evangelho, porém se engajar com essa mensagem, significaria a perda de prestígio e tempos difíceis. Os resultados que os seguidores de Jesus tinham no início da Igreja eram bem diferentes do que se espera dos seguidores do evangelho instagramável.

Embora seja um grande dilema entender se as redes sociais são uma benção ou de fato uma maldição, dado diversos fatores e situações, aqui usaremos uma análise de Vanhoozer sobre o princípio da mesmidade, quando duas ocorrências de uma coisa não formam duas coisas diferentes, mas ‘uma e a mesmas coisas’. Porém, cabe aqui questionar a relação e o uso desses espaços. As novas tecnologias moldam a sociedade em novos comportamentos, por isto a necessidade de se atentar para qual direção a sociedade está caminhando. No que tange as redes sociais, estes são espaços que apesar de seus intentos originais e o propósito para promover uma plataforma de relacionamento, precisamos entender os interesses que movem essas plataformas. Cada plataforma possui seus pressupostos ideológicos para influenciar de acordo com seus objetivos.

Quando a Igreja começa a compartilhar seu espaço sagrado com o Instagram é preciso manter a perspectiva da sua identidade e do seu propósito. Vanhoozer afirma que manter as virtudes da fé em perspectiva será útil principalmente para evitar ações das quais podem prejudicar a comunicação da mensagem do Evangelho. O autor prossegue alertando sobre os perigos em perder as perspectivas, quando nos conectamos a coisas como dinheiro, poder, saúde, reputação e posicionamento teológico. Nessa era de marketing de massa e utilitarismo, é muito fácil perder de vista as coisas que possuem valor real em vez de valor apenas pragmático.

A Igreja precisa ter claro qual sua missão e propósito, pois, o Instagram oferece formas que tem tolhido a essência da mensagem do evangelho. Mas, qual seria a essência da mensagem do Evangelho? Lourenço S. Rega19, afirma que a verdade da mensagem bíblica é sustentada pela premissa que nascemos para a glória de Deus e para vivermos em comunhão com Ele. Se a nossa missão é fazer discípulos para
viverem para a Glória de Deus, então esse novo paradigma de propósito da Igreja visa reestabelecer a harmonia e a comunhão com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Deus criou nosso mundo preparando-o para que o ser humano pudesse nele viver de modo saudável, e esses objetivos serão conquistados não pela adaptação da mensagem ao padrão estético instagramável dessa rede social, mas sim ao princípio que Jesus afirmou, que quem quiser me seguir, deve negar-se a si mesmo e tomar a
sua cruz.

A mola propulsora do Instagram é proporcionar prazer para o seu usuário, então, em outras palavras podemos dizer que o Instagram visa agradar o coração do homem. A ferramenta só poderá cumprir o seu objetivo se usada para o propósito que foi criado, portanto, a ferramenta passa a ser usada como extensão do coração do homem, o que nos leva entender, que o Instagram não é o problema, mas sim o
homem que usa esse espaço para reproduzir traços de sua natureza caída, que busca satisfazer a si mesmo ao seu próprio tempo e da sua própria forma, contrário a natureza do Messias, que humildemente se esvaziou de sua Glória e obedeceu ao Pai acima de todas as coisas.

Em uma plataforma onde as pessoas buscam ter maiores números de seguidores e serem populares por suas conquistas, tornando-as conhecidas através de suas publicações, é importante que um seguidor de Cristo, tenha o objetivo de conectar os seus possíveis seguidores ao seu Mestre, através de um estilo de vida que expressa o Imago Dei, em outras palavras, é ser portador da imagem do Deus criador. Isto implica em dar forma, a oração de Jesus quando Ele diz: Seja feita a sua vontade assim na terra como nos céus. Esses espaços cibernéticos, se tornará um lugar aonde o Reino de Deus avança, quando os seguidores fiéis de Jesus, passarem a anunciar o evangelho a tempo e em fora de tempo, com a sua vida e as suas imagens, não somente com propósitos de marketing pessoal, ou com fins comerciais fazendo assim, com o que o Pai, possa ser conhecido, gerando espaços de conexões, entre o céu e a terra.

Uma pessoa que é seguida em uma rede social, torna-se um influenciador, pois as pessoas se conectam com ele, por conta do seu estilo de vida que são projetadas naquelas imagens e vídeos. Portanto, assim como já foi mencionado, não se pode negar o uso desse espaço, mas que de maneira sábia, precisamos ser influentes agentes dos valores do Reino de Deus e não dos valores hipermodernos. Em outras palavras, não é a ferramenta que contamina o coração do homem, mas sim o que já está no coração deles. Diante disso, chamo a atenção para não sermos vencidos pelo temor dos homens. Quando optamos por um estilo de vida que é contrário ao espírito desse mundo, precisamos estar preparados para os unfollows, o não engajamento e os deslikes, pois, não podemos nos esquecer que Jesus já nos havia alertado, que por amor a Ele, seriamos odiados.

Nesse mundo instagramável as pessoas se preocupam em serem virais; em buscarem a selfie perfeita, ou o espaço mais instagramável possível; embora esses posts, mesmo que agradáveis aos olhos, não causam nenhuma transformação, pois a mensagem que comunicam é superficial. Porém, Cristo ao ser pendurado em um madeiro, tendo o seu corpo despido, depois de ser humilhado e espancado tendo sido
aviltado, e abandonado por seus seguidores. Em sua plena vulnerabilidade consagra maior selfie; a imagem instagramável, que divide a história e conduz a salvação e reconciliação da Criatura com seu criador, mudando o status do relacionamento para Pai e filhos. Assim conclui-se que, os tempos são hipermodernos, mas a fé no Deus vivo é eterna e não muda, e em Cristo tudo converge para o conhecimento de Deus.